Folha Imagem

Lula comanda assembéia de metalúrgicos em 13 de maio de 79, em São Bernardo

O presidente Lula adotou nesta terça-feira um comportamento que o sindicalista Lula já classificou de coisa de “sacanas”. Em 1979, época em que emergia como uma lenda do sindicalismo do ABC paulista, Lula teve de engolir a quebra de um acordo que firmara com a Scania. Exatamente como fez agora com os controladores de vôo.

É o próprio Lula quem conta: “Houve uma proposta, a empresa [Scania] aceitou a proposta. Essa proposta foi levada aos trabalhadores dentro da fábrica e nessa assembléia eu falei (...). Os trabalhadores aceitaram a proposta, aceitaram inclusive batendo palmas. E nós saímos da Scania e fomos para a Delegacia Regional do Trabalho para fazer o acordo”.

“Foi então", prossegue Lula, "que os sacanas dos diretores da Scania tomaram uma prensa do Sindicato da Indústria Automobilística e disseram que não podiam fazer aquele acordo. A gente já tinha pedido para o pessoal voltar a trabalhar. Aquilo foi uma coisa muito ruim, porque no dia seguinte a Scania montou um esquema de segurança dentro da fábrica de perseguição aos trabalhadores fodido. Cada setor tinha dois ou três guardas olhando os trabalhadores. Então virou um campo de concentração. E é lógico que você pega o trabalhador que desconfia que houve traição, que o sindicato vendeu ele ou coisa parecida.”

O relato consta da página 136 do livro “Lula, o filho do Brasil” (Editora Fundação Perseu Abramo). Trata-se de uma coletânea de entrevistas que resultou num memorável perfil do sindicalista que logrou chegar à presidência.

Transpondo-se o exemplo para os dias que correm, verifica-se que, no Planalto, Lula impôs aos controladores de vôo o mesmo passa-moleque que os “sacanas” da Scania lhe pespegaram em 1978. Depois de firmar, por meio do ministro Paulo Bernardo (Planejamento), um acordo com os seus "funcionários", o presidente roeu a corda.

“Tomou uma prensa” dos militares e converteu os centros de controle de vôo em “campos de concentração”. Os controladores encontram-se agora sob inquérito policial. E, na pele de “patrão”, Lula autorizou a polícia – no caso o comando da Aeronáutica— a recolher ao xilindró qualquer “operário” que ouse se insurgir contra as normas.

O Lula de 1978 era a favor das greves nos setores ditos essenciais (página 138 do livro). Algo que o Lula de 2007 está decidido a limitar. De resto, o sindicalista cultivava valores que não combinam com os de um presidente da República. Em relato anotado na página 80, conta que presenciou uma cena que terminou em morte.

Devolva-se a palavra o Lula do sindicato: "Se não me engano, foi em 1962. Tinha uma fábrica na rua Vemag, uma pequena tecelagem, uma fábrica de meia. Lá eu presenciei a cena mais violenta de uma greve. O pessoal vinha numa passeata e tentou parar a fábrica, que era pequena. Deveriam trabalhar umas oito ou nove pessoas, no máximo. Ficava num sobrado. O pessoal entrou e foi subindo as escadarias. Então o dono da fábrica atirou. Atirou e o tiro pegou na bexiga de um companheiro que estava na frente. O pessoal ficou invocado e jogou pela janela o dono da fábrica; ele caiu do segundo andar. O cidadão caiu no chão e lá embaixo o pessoal chutou ele, agrediu. [...] Ele foi para o hospital, a (...) impressão que eu tenho é que ele não sobreviveu [...] Eu achava que o pessoal estava fazendo justiça".

O presidente Lula decerto deve ter modificado o seu conceito acerca da justiça dos linchamentos.