BOM FINAL DE SEMANA!
A última canafístula
Charles Kiefer
Canafístula, repetiu o meu avô, batendo a mão espalmada contra a casca da árvore. Deve ter mais de trezentos anos, continuou. Olhei para a árvore, olhei para ele. Eu jurava que ele era mais velho que ela. Gosto desta canafístula, ele disse. Olhou para cima e ao redor, bateu outra vez na casca grossa e rugosa. Porque é a última, continuou. Deve ser muito triste, eu disse. O quê?, ele perguntou. O que que deve ser triste? Ser a última, eu disse. É, ele respondeu. Levantou a cabeça, olhou para cima; fiz o mesmo. Não dava para ver a copada. Deve ser frio lá em cima, eu disse. Melhor que aqui embaixo, ele retrucou, ao menos não fica sufocada. É, respondi e cheguei a sentir no rosto o ventinho bom que soprava lá em cima. Será que ela sabe?, perguntei. O quê?, ele murmurou. Que é a última, respondi. Sabe, é claro que sabe, ele disse e alisou a casca da árvore. Saber é pior, dói mais. Ficou quieto. Eu queria falar, puxar assunto, mas não conseguia; ele estava ali e não estava. De repente, vi uma lágrima , uma só, escorrendo pelo seu olho direito. Fingi não ver, ele aproveitou para se enxugar. Entrou um cisco no meu olho, ele falou. Caiu da canafístula, eu disse. Viu só, agora você diz o nome dela certinho. É, eu respondi. Ele sorriu. Quantos dias eles vão levar para chegar aqui?, eu perguntei. Uns três, com as motosserras em três dias eles vão conseguir derrubar todo o mato. Não quero ver, eu disse. O quê?, ele perguntou. Não quero ver ela cair, expliquei. Eu também não, ele respondeu. Ficou em silêncio outra vez. Vamos dar uma abraço nela, eu disse, de despedida? Vamos, ele retrucou. Abri os meus braços o mais que pude, mas não consegui alcançar os dedos de meu avô no outro lado. Não dá, ele disse, é muito grossa, respondi. Vamos, ele disse, já está escurecendo. Pegou a minha mão e me levou para casa. Ele tinha a mão áspera e fria, como a casca da canafístula.
BOM FINAL DE SEMANA!
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