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• Nestas três semanas, o povo trabalhador hondurenho vem mostrado uma força histórica. Dezenas de milhares participam da resistência contra o golpe de estado, suportando a repressão e a perseguição.
Como diz o comunicado de 19 de julho da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, os golpistas efetuaram “quatro assassinatos, 1.158 detenções ilegais, ameaça e perseguição a representantes do movimento social; 14 meios de comunicação, 14 jornalistas e quatro organizações sociais sofrem com atentados à liberdade de expressão”. Além disso, sofrem com as intimidações diárias nos centros de trabalho, nas colônias e nos centros de estudo, além da furiosa campanha anticomunista dos jornais golpistas e a quase totalidade dos canais de televisão.
No entanto, o povo hondurenho continua resistindo e fazendo história. Ainda que o massacre no aeroporto de Toncontín e a primeira rodada de negociações na Costa Rica tenham produzido impasse e confusão, o movimento popular foi recuperando confiança e força. Novos setores também foram se incorporando.
Os trabalhadores da educação são a coluna vertebral da luta urbana, reunindo ao redor deles outros funcionários do estado, camponeses e populares. Durante os dias 15 e 16 de julho, vários bloqueios de estradas pelo país atingiram em cheio os empresários golpistas, impedindo suas exportações. O problema, porém, é a negligência das centrais operárias para convocar uma greve geral.
É necessário entender neste momento o papel do imperialismo norte-americano no país. Os principais personagens golpistas civis e militares foram construídos pelo imperialismo ianque nos anos 1980, durante a “guerra suja”, e também na época neoliberal. A embaixada norte-americana estimulou permanentemente a dissidência contra Manuel Zelaya, mas sua estratégia fundamental foi sempre o desgaste eleitoral e a chantagem. No entanto, quando a extrema-direita hondurenha, confiante no apoio dos EUA, executou o golpe de estado, o governo Obama não saiu em apoio aberto. Essa situação contraditória desembocou no isolamento internacional dos golpistas, apesar de a ação contar com praticamente toda a elite hondurenha.
Frente a esta situação, o governo imperialista procura uma velha figura de sua confiança: Oscar Arias Sánchez, presidente da Costa Rica, diretamente colocado como “mediador” pelo departamento de Estado dos EUA. O “Plano Arias” teria o objetivo de estabilizar a situação de conflito aberta pelo golpe. Apesar de o Plano Arias propor a restituição de Zelaya à presidência, seus outros pontos tentam evitar a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Além disso, tenta garantir a impunidade dos golpistas e a preservação de toda a corrupta institucionalidade que preparou o golpe (Corte Suprema, Tribunal Supremo, Forças Armadas, Comissão de Direitos Humanos etc.).
No meio de uma situação estranha, onde nem o golpe se consolidava, nem o movimento popular conseguia expulsar os golpistas, foi levada adiante a segunda rodada de negociações na Costa Rica, onde se apresentaram os sete pontos do Plano Arias.
Desta vez, a delegação que representava Zelaya aceitou os pontos, abandonando bandeiras fundamentais levantadas pela Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, como a Constituinte. E ainda aceitava a impunidade dos golpistas e a preservação da cúpula militar. Essa posição de Zelaya entregava na mesa de negociação os motivos pelos quais se produziu a resistência popular.
Apesar disso, as conversas não chegaram a um termo comum. Isso é resultado das exigências do setor mais direitista, que não quer o retorno de Zelaya, mas garantias para as Forças Armadas e os golpistas civis.
Nesse sentido, é muito importante que a Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado adote uma clara linha de independência de Zelaya, não só denunciando o papel de Arias, mas também exigindo a ruptura do presidente deposto com as negociações e o plano.
Está em mãos do movimento popular manter a luta de rua e, sobretudo, garantir uma paralisação cívica nacional para derrotar os golpistas, garantir seu julgamento e castigo e derrubar as velhas instituições através da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, livre e soberana.
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