DITADOR
Por Fernando Lobato - Historiador
A mentira depois de contada e propalada, força o mentiroso a buscar o convencimento não apenas dos outros, mas, sobretudo, de si mesmo. Quando olha para o espelho, costuma reproduzir para si a sua ficção e, depois de algum tempo, esta prática o faz incorporar um tipo de máscara que é muito comum nos atores de novela e teatro. Esta tem sido a sina, nos últimos 10 dias, de Geraldo Alckmin na sua tentativa de explicar o modo correto de funcionamento de uma democracia.
Em todas as entrevistas que concede, igual ao mentiroso acima, de pronto incorpora a máscara criada para contar a sua versão sobre a invasão da favela Pinheirinho. Diz, o tempo todo, que agiu, pasmem, em defesa da Democracia, porque, nela, o Executivo tem de fazer valer a vontade do Judiciário. Ouvindo Alkmin fica nítido o seu auto-convencimento em relação a ficção criada para explicar o inexplicável, pois omite, de forma consciente, que a vontade do seu Judiciário atentou contra a vontade de nossa lei maior.
Na Democracia, diz qualquer dicionário, a vontade do povo ou sociedade está acima de todas as demais. No caso do Pinheirinho, para além das ilegalidades flagrantes, está muito claro que foi a vontade de um, dois ou três especuladores que determinou a sua iniciativa enquanto Chefe do Executivo paulista. Se agiu do modo como agiu, o fez não em nome da maioria, mas em nome de um grupo que não enche sequer um elevador de um prédio de poucos andares. Na máscara da mentira que Alckmin incorporou, Democracia e Totalitarismo Fascista parecem funcionar do mesmo modo.